Aumentar o salário dos professores resolve o problema da educação? Salas com 40 crianças ou mais são o fim da picada? Convidamos alguns dos maiores especialistas na área para avaliar cinco conceitos cristalizados. Prepare-se para as surpresas A educação é um território fértil para palpites. "Talvez porque, de uma forma ou de outra, todos fomos educados, e dessa história pessoal tiramos nossas conclusões, em geral muito superficiais e sempre fora de época", afirma o psicólogo e consultor José Ernesto Bologna, de São Paulo, analisando a aparente trivialidade com que é tratado o desafio de educar. Ele compara: "A situação é bem diferente, por exemplo, no plano da engenharia, um conjunto de buscas e soluções técnicas, apoiadas por uma ciência, a física, e uma linguagem objetiva, a matemática". Que tal colocar sob análise rigorosa alguns dos conceitos mais divulgados atualmente como parte do receituário para melhorar a qualidade da educação? Pois bem, fazendo isso, afirmações aparentemente incontestáveis se revelam mitos, sofismas ou meias-verdades que só atravancam a discussão.
Um estudo realizado em 2008 pela Fundação SM, entidade que investe em projetos educativos em países de língua espanhola e portuguesa, e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) mostrou que 53% dos professores brasileiros estão descontentes com o alto número de alunos em sala de aula. Mesmo na rede particular, ao escolher uma escola os pais querem saber com quantos outros alunos seu filho estudará. "Em todo o mundo é assim", diz Mona Mourshed. Parece fazer sentido: com menos alunos, os professores teriam mais condições de controlar a turma e dar atendimento individualizado. Recentemente, porém, a consultoria McKinsey reuniu 120 estudos a esse respeito: 89 deles não estabeleciam uma relação significativa entre tamanho da sala e aprendizagem. Outros nove ainda encontraram em salas grandes um fator positivo. "A Coréia, um dos cinco países com melhor educação, coloca até 60 alunos nas salas", afirma Claudio de Moura Castro, ex-diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a área de educação. "As pesquisas mostram exaustivamente uma ausência quase total de associação entre tamanho das classes e resultados." Até na questão comportamental, as classes numerosas parecem levar vantagem. O psicólogo José Ernesto Bologna lembra que o papel da escola é também o de socialização. "A escola não deve repetir as proteções da casa", afirma. Segundo ele, as salas de aula maiores exigem mais disciplina, portanto mais capacidade de respeito, importante na formação para a vida.